Todos somos fadados aos chamados “vieses inconscientes”. São esses pensamentos rápidos, automáticos e inconscientes que ganham vida por meio das nossas experiências e heranças ancestrais e primitivas. Por mais que possam nos auxiliar em tarefas do dia a dia, dentro e fora do ambiente de trabalho, também podem nos fazer cair em armadilhas e serem geradoras de preconceito, discriminação, microagressão e assédio.
Para evitar e impedir esses comportamentos dentro da sua organização, é muito importante que se saiba as diferenças entre eles.
O que é cada um deles?
Muito se fala das consequências de tais comportamentos dentro do ambiente de trabalho, como o machismo, os desafios que as mulheres enfrentam no trabalho , a ausência de pessoas negras em cargos de liderança, as barreiras que pessoas LGBTQIA+ enfrentam nas organizações, ou a dificuldade que pessoas com deficiência têm para se inserirem no mercado de trabalho.
Mas ainda é baixa a compreensão na definição de cada um dos termos. Por consequência, existe uma maior dificuldade de realizar ações preventivas ou punitivas que gerem uma mudança de pensamento ou comportamento.
O que é preconceito?
Preconceito é uma atitude ou opinião negativa e infundada que uma pessoa ou grupo de pessoas mantém em relação a outro indivíduo ou grupo, com base em características como raça, gênero, orientação sexual, religião, nacionalidade, entre outras.
Essas atitudes preconceituosas são geralmente baseadas em estereótipos, generalizações simplistas e falta de compreensão ou experiência direta com o grupo alvo do preconceito.
Podemos iniciar a definição com uma pergunta: “Qual a relação entre estereótipo e preconceito?”. Essa é uma pergunta muito comum e ainda há, para muitas pessoas, uma confusão e dificuldade de diferenciar os dois termos.
Para elucidar, o estereótipo é referente a crenças e generalizações sobre determinado grupo; portanto, é um processo de atribuição de características baseado em semelhanças. Como um procedimento natural, não é necessariamente negativo.
Enquanto o estereótipo nem sempre é negativo, o preconceito sempre traz um viés desfavorável à uma pessoa ou grupo. Assim, o preconceito remete a uma atitude ou avaliação negativa que vai fundamentar a construção de uma opinião que inferioriza uma pessoa ou grupo e privilegia outro. Em outras palavras, o preconceito é uma opinião prévia ou julgamento apressado e generalizado fundado, muitas vezes, em estereótipos herdados na construção cultural e social do indivíduo.
Como exemplo de preconteito que passa despercebido no dia a dia, temos: o preconceito de que mulheres são mais frágeis, pessoas com deficiência não são capazes de exercer alguma função, pessoas mais velhas não são boas com tecnologia, entre outros.
Tipos de preconceito
Existem diversos tipos de preconceito que podem se manifestar em diferentes áreas da sociedade. Alguns exemplos de tipos de preconceito:
- Preconceito Racial: Baseado na raça ou etnia de uma pessoa. Isso pode envolver estereótipos negativos, discriminação e tratamento desigual devido à cor da pele ou origem étnica.
- Preconceito de Gênero: Refere-se a atitudes negativas ou crenças injustas sobre um gênero em relação ao outro. Pode envolver estereótipos de que um gênero é superior ou inferior ao outro.
- Preconceito Sexual: Relacionado à orientação sexual das pessoas. Isso pode incluir homofobia, bifobia e transfobia, que são atitudes negativas em relação a indivíduos LGBTQ+.
- Preconceito Religioso: Envolve julgamentos injustos ou estigmatização de pessoas com base em suas crenças religiosas. Pode levar a discriminação religiosa ou intolerância.
- Preconceito Socioeconômico: Refere-se a atitudes negativas em relação a pessoas de diferentes classes sociais. Isso pode incluir estereótipos sobre a riqueza ou a pobreza de alguém.
- Preconceito de Idade: Baseado na idade das pessoas, especialmente em relação aos idosos ou aos jovens. Isso pode levar a tratamento desigual ou exclusão com base na idade.
- Preconceito de Aparência: Relacionado à aparência física das pessoas, como peso, altura, estilo de vestir etc. Isso pode levar a discriminação com base na aparência externa.
- Preconceito Nacional ou Étnico: Envolvendo atitudes negativas em relação a pessoas de outras nacionalidades ou grupos étnicos. Isso pode estar ligado a estereótipos culturais.
- Preconceito Linguístico: Baseado na língua falada por alguém. Pode levar a tratamento desigual ou desprezo por pessoas que falam um determinado idioma.
- Preconceito de Deficiência: Relacionado a atitudes negativas em relação a pessoas com deficiência física, intelectual ou sensorial. Pode envolver estigmatização e exclusão.
- Preconceito de Status Marital: Envolvendo atitudes discriminatórias com base no estado civil de uma pessoa, como solteira, casada, divorciada, etc.
Esses são apenas alguns exemplos de preconceitos que podem ocorrer na sociedade. É importante reconhecer e combater essas atitudes para promover a igualdade e a justiça para todos.
Discriminação
O preconceito está na ordem do pensamento, a discriminação está na ordem da ação. Portanto, a discriminação remete a um comportamento que expressa o preconceito.
Essa ação pode ocorrer com ou sem a intenção, mas provoca a inferiorização de uma pessoa ou um grupo por conta de características como, por exemplo, idade, raça ou etnia, orientação sexual, identidade de gênero, deficiência, religião, entre outros.
Conectando com os exemplos de preconceitos apresentações acima, são exemplos de discriminação:
- A não contratação de mulheres em cargos operacionais em indústria,
- Atribuição de funções básicas ou inexistentes a pessoas com deficiência e/ou afastamento do restante da organização,
- Contratação apenas de pessoas mais novas ou demissão de pessoas quando chegam a determinada idade, entre outros.
A discriminação pode ser efetuada de uma forma mais explicita e de fácil percepção, ou de uma forma mais sutil e de difícil percepção. A esta última, damos o nome de microagressão.
Microagressão
Termo utilizado pela primeira vez por Chester Pierce em 1970, é definido como colocações verbais, comportamentais e ambientais presentes no cotidiano e que, com ou sem intenção, inferiorizam uma ou mais pessoas de um grupo. Essas discriminações sutis podem ser expressas por meio de comentários, perguntas, “brincadeiras”, “piadas” e até na disposição do ambiente (ex. falta de um banheiro em que a pessoas se sinta confortável de utilizar, ou a falta de uma estrutura para que todos possam se locomover ou trabalhar com eficiência).
Como são cotidianas, elas são expressas de forma automática e, muitas vezes, sem intenção, principalmente, por aquelas pessoas que não têm consciência dos seus preconceitos e vieses. Além disso, são de difícil percepção por aqueles que proferem e que recebem, o que não justifica sua existência ou minimiza seus efeitos negativos e danosos à saúde mental, emocional e física das vítimas.
São exemplos: perguntas como “Você trabalha aqui?” para pessoas negras em lojas ou restaurantes; comentários como “Sério que você é lésbica/gay/bissexual/trans? Não parece” para pessoas LGBTQIA+; expressões como “Você é um exemplo de superação” para pessoas com deficiência.
Assédio
Agora no campo da agressão explícita, o assédio se caracteriza como uma recorrência de comportamentos ofensivos, impertinentes e hostis que importuna outra pessoa e promove insegurança e constrangimento a ela.
O assediador pode ser uma ou mais pessoas que, normalmente, mas não exclusivamente, ocupa uma posição de poder que visa atacar a personalidade, o intelecto ou até o físico de sua vítima, podendo se utilizar de práticas antiéticas, violência emocional e/ou abuso de poder.
Existem diversas formas de assédio em âmbitos diversos. São eles: assédio moral, assédio sexual, bullying, entre outros. Assim como qualquer tipo de toque que cause desconforto à vítima, controle da utilização de banheiros, aplicação de penalidades em ambientes públicos, prática de dinâmicas de grupo humilhantes, entre outros.
Existe diferença de preconceito para racismo?
Há diversos exemplos de preconceito que incluem: machismo (crença na maior capacidade dos homens em detrimento das mulheres), capacitismo (crença de que pessoas com deficiência não são capazes ou são inaptas), racismo (crença de que pessoas de determinada raça são superiores em detrimento das demais), entre outros. Portanto, quando falamos de preconceito, abordamos manifestações de crenças que incluem o racismo.
No entanto, o racismo não se manifesta apenas por meio de crenças, podendo ser expresso em ações, como discriminação ou microagressão, e na estrutura da nossa sociedade, chamado de racismo estrutural.
Qual a diferença entre preconceito e discriminação
Em resumo do que abordamos acima, a diferença entre preconceito e discriminação é que o preconceito é uma atitude mental ou emocional, enquanto a discriminação envolve ações concretas que resultam na negação de oportunidades ou no tratamento injusto de indivíduos ou grupos com base em características pessoais.
O preconceito pode levar à discriminação, e a discriminação, por sua vez, reforça e perpetua o preconceito, criando um ciclo prejudicial. Ambos são problemas sociais que precisam ser reconhecidos e abordados para promover a igualdade e a justiça.
Preconceito é ter ideias negativas ou estereotipadas sobre um grupo de pessoas. Discriminação é agir de maneira injusta ou desigual contra esse grupo por causa dessas ideias.
Conclusão
De forma didática, dizemos que os vieses inconscientes podem evoluir para um pensamento (preconceito), uma ação (discriminação e microagressão) ou para uma agressão (assédio). É importante ressaltar que essa evolução não é necessariamente gradativa, e cada termo não está fechado apenas em sua caixinha. Um assédio pode ser também uma discriminação, por exemplo.
Ainda, a compreensão de suas diferenças auxilia na atuação da organização com ações e estratégias assertivas para a melhoria do ambiente de trabalho com o objetivo de promover um espaço inclusivo para todas as pessoas. A sua identificação correta resulta em estratégias específicas que podem ir desde um letramento para quebra de crenças a punições para impedir a continuidade de ações ou agressões, como uma advertência ou demissão.
Que tal contar com a Santo Caos para aprimorar a sua estratégia de inclusão e combate à discriminação no ambiente de trabalho? Nossa equipe de especialistas está pronta para ajudar a sua empresa! Tenha um ambiente mais inclusivo e respeitoso para todas as pessoas da sua equipe! Entre em contato.