Apesar dos constantes debates promovidos sobre equidade de gênero e equidade racial, ainda vivemos em um dos países mais desiguais do mundo.
De acordo com esta publicação do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE), a equidade de gênero no ambiente corporativo deve ser alcançada só daqui a cerca de 80 anos. Já a equidade racial só está prevista para ocorrer em 150 anos.
Porém, é fundamental mudar esse cenário. Em primeiro lugar, por se tratar de uma demanda urgente do ponto de vista social e, também, para um melhor desempenho das equipes dentro das companhias, uma vez que ambientes diversos impulsionam a criatividade e a produtividade.
Neste artigo, abordamos o desafio de promover a equidade entre os gêneros e a equidade racial nas empresas. Para facilitar a leitura e a compreensão do tema, dividimos o texto nos seguintes tópicos:
- O que é e por que ainda temos que falar sobre?
- O que é equidade racial?
- Equidade racial nas empresas
- Equidade racial e a mulher negra
- Exemplos de equidade de gênero
- Como promover a equidade nas empresas
- Boas práticas de equidade de gênero
Por que ainda temos que falar sobre equidade racial ?
Em novembro, por ser o mês da consciência negra, o tema racial ganha destaque e as discussões sobre equidade racial nas empresas entram em evidência.
É um bom momento para promover a conscientização sobre a importância de trazer mais talentos negros para dentro das companhias, por meio de programas de estágios e trainee.
O que é equidade racial?
A equidade racial, também conhecida como equidade étnico racial ou equidade de raça, refere-se à igualdade de oportunidades por meio do fortalecimento e o empoderamento de pessoas negras.
Conforme já sugerimos, promover a igualdade entre as raças, assim como a equidade de gênero e até mesmo compreender de fato o que é equidade racial e o que é equidade de gênero no ambiente corporativo é um dos grandes desafios da atualidade.
Equidade racial nas empresas
Em primeiro lugar, é fundamental compreender que os termos igualdade e equidade não carregam o mesmo sentido.
Isso porque é possível oferecer um tratamento igual aos diferentes perfis de pessoas que existem em uma sociedade plural e compõem o time de colaboradores de uma empresa.
Mas é necessário buscar a equidade racial nas empresas, que significa compreender as particularidades e necessidades de quem historicamente está em desvantagem, como é o caso das mulheres e da população negra, oferecendo:
- salários iguais para profissionais que exercem a mesma função, independentemente de seu gênero e etnia;
- programas de desenvolvimento profissional e crescimento para essas pessoas;
- combate a práticas machistas e racistas dentro das organizações.
Uma companhia que propõe a equidade racial só tem a ganhar, pois garante um ambiente produtivo, criativo e inovador e ganha reconhecimento como marca empregadora.
É visível que as empresas têm um papel-chave na solidificação e desconstrução das problemáticas que persistem nos dias de hoje a respeito da equidade racial. Luiza Trajano, dona da rede Magazine Luiza, em uma entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, declarou haver poucos executivos negros em altos cargos e, por isso, optou por fazer o programa de trainee exclusivo para pessoas negras.
Nosso estudo Black In é de 2018, e ainda hoje a questão do racismo estrutural está presente em nossa sociedade e ainda mais evidente em empresas, o estudo traz dados como: somente 34% dos funcionários das maiores empresas são negros, menos de 10% dos profissionais negros estão em altos postos hierárquicos, um a cada três profissionais negros já sentiu dificuldade em encontrar emprego por causa da sua cor e profissionais negros com ensino superior completo recebem 28,8% menos do que recebem os brancos em igual condição.
Equidade racial e a mulher negra
Quando falamos da mulher negra no meio corporativo, o cenário é ainda mais desfavorável em relação à equidade racial, especialmente se o assunto é equidade racial nas empresas: apenas 0,4% estão em cargos executivos, e a remuneração da profissional negra em relação ao que recebe um homem branco é 59% inferior.
No grupo das empresas analisadas na pesquisa do Instituto Ethos, de um total de 548 diretores negros e não negros de ambos os sexos, há apenas duas mulheres negras. Tal dado reflete a desigualdade e sub-representação que se observa de modo geral no mercado de trabalho brasileiro, visto que, em níveis escalonáveis, a situação é ainda pior.
Exemplos de equidade de gênero
A desigualdade entre homens e mulheres acontece todas as vezes que elas recebem menos oportunidades e recursos em função de seu gênero.
Isso ocorre, por exemplo, quando um profissional do sexo masculino consegue investir mais tempo na carreira por deixar todo o trabalho doméstico por conta de sua esposa, limitando suas escolhas profissionais ou quando uma mulher ganha menos que o colega que exerce a mesma função.
A equidade entre os gêneros é o que garante a presença de mulheres em cargos de liderança, nas profissões tidas como masculinas, na política etc. Outra maneira de promover a equidade é promover a conscientização de que cuidar da casa e dos filhos também é uma tarefa que deve ser dividida entre os companheiros.
Como promover a equidade nas empresas
A igualdade de direitos e oportunidades é a grande bandeira que deve ser levantada. Nosso guia de equidade de gênero traz algumas ideias que podem ser implantadas nas organizações para fomentar a equidade entre homens e mulheres, como promover políticas internas de conscientização, contribuir para a transformação da cultura organizacional e das perspectivas dos colaboradores sobre equidade racial e de gênero, ter uma liderança mais diversa, promover oportunidades de desenvolvimento e crescimento, entre outras.
Embora a discussão esteja relacionada à equidade racial no mercado de trabalho, as políticas precisam engajar e conscientizar a todos, independentemente de ser negro ou não.
Para Daniel Teixeira, advogado e diretor do Ceert (Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdade): “As empresas precisam de programas mais efetivos e não só ficar no plano da imagem e no plano do marketing. Só isso não é equidade racial.”
Percebe-se cada vez mais que é preciso tratar esse diálogo com profundidade, indo além dos números e estatísticas, buscando entender, investigar qualitativamente os porquês, as motivações, bem como o que as empresas pensam e esperam em relação à causa. Ela não pode continuar sendo passageira, tampouco encarada como modismo e deixando de ser efetivamente praticada.
Para haver equidade, é fundamental ter engajamento das lideranças e equipes. Isso pode ser feito de diversas formas:
- treinamentos para diminuir os vieses inconscientes no recrutamento, seleção e promoção;
- campanhas internas de incentivo e sensibilização;
- diagnóstico de perfis dos colaboradores e percepção sobre diversidade, que permita criar ações efetivas para que esse quadro mude.
Boas práticas de equidade de gênero
A equidade de gênero, assim como outros temas ligados à diversidade, deve ser uma preocupação constante das empresas. No entanto, reforçamos o tema, mostrando os desafios que as mulheres ainda enfrentam no mercado de trabalho e como a questão da maternidade vem sendo encarada nas empresas. Além disso, trouxemos várias outras pautas importantes relacionadas ao assunto no Linkedin e no Instagram da Santo Caos.
Hoje, queremos compartilhar boas práticas de equidade entre os gêneros para que você se inspire e dê os primeiros passos para mudar a realidade das mulheres na sua empresa. O tema é necessário, já que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBM Institute for Business Value, 70% das empresas não encaram a igualdade de gênero como pauta prioritária.
Veja nossas dicas:
Conheça a sua realidade
Fazer algumas perguntas pode fornecer um bom contexto sobre a sua organização em relação ao tema:
- Como as mulheres se sentem na empresa?
- O que elas pensam sobre o assunto?
- Quais cargos elas ocupam?
- Quanto ganham?
Para trabalhar a equidade de gênero e mapear os avanços, é fundamental ter dados. Um trabalho de diagnóstico, por exemplo, pode ser fundamental. Mas, mais do que isso, o importante é ouvir as pessoas envolvidas e, a partir disso, mapear essa realidade e definir próximos passos.
Traga o assunto para discussão e conscientize a liderança
Compartilhe os dados mapeados na etapa anterior, leve o assunto para reuniões, divulgue estudos sobre o tema, promova rodas de conversa e, acima de tudo, sensibilize a liderança.
Trabalhar a equidade vai muito além de contratar ou promover mulheres, já que: 1. é preciso contratar, mas também dar oportunidades justas; e, 2. se a equipe não aceitar a ascensão de cargo de uma mulher, ela não terá a autonomia e o respeito necessários para desempenhar o seu papel da melhor forma.
Combata os vieses inconscientes
Neste texto, nós trazemos orientações sobre como diminuir o impacto dos vieses inconscientes na contração de pessoas. E, aqui, falamos especificamente sobre a contratação de mulheres para cargos de gestão.
Invista em políticas internas de inclusão e equidade e crie metas para ajudar no percurso.
Não basta não ser machista, é preciso combater o machismo!
Se quer evoluir em equidade de gênero, a empresa não pode tolerar atitudes, piadas e posicionamentos que diminuam as mulheres.
Revise os benefícios:
- É possível flexibilizar os horários de funcionárias com filhos pequenos?
- É possível oferecer auxílio-creche para dar suporte às mães?
- E a licença-paternidade, que tal estender o período? Esse benefício, mesmo que seja aplicado aos homens, é fundamental para ajudar as mulheres a subirem na carreira corporativa.
Por último e não menos importante
quando tiver dúvidas sobre como se posicionar em relação a qualquer questão que envolva diversidade e inclusão, pergunte. A melhor forma de lidar com o tema, mais uma vez, é ouvindo as pessoas.
Essas são algumas das possibilidades para começar um trabalho de equidade de gênero. Conte com a Santo Caos para avançar com esse tema na sua empresa!
Enfim, as possibilidades são muitas, o importante é começar. Vamos juntos(as) nessa jornada pelo engajamento e pela equidade?